A Terra Prometida: Quando o Discurso de Lula pelos Povos Indígenas Vira Fumaça nos Trilhos do Progresso
- Ana Soáres
- há 18 horas
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Na semana passada, representantes do governo chinês visitaram obras do Novo PAC e discutem rota estratégica de integração continental a partir do Brasil.

Nas tribunas internacionais e nos palanques nacionais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não poupa palavras: “os povos indígenas são os verdadeiros donos da terra”. Uma frase forte, poderosa, carregada de simbolismo histórico — e absolutamente contraditória com a prática política que vem sendo executada por seu governo.
Por trás dos aplausos, das fotos com cocares e dos discursos inflamados sobre justiça social, esconde-se uma verdade incômoda: a propriedade ancestral dos povos originários está sendo sacrificada no altar de um projeto econômico travestido de desenvolvimento nacional. A Ferrovia Bioceânica — aclamada como a nova rota da integração continental — é, na verdade, a nova face da velha colonização.
O DISCURSO DE LULA NÃO AGUENTA O IMPACTO DOS TRILHOS
Lula fala em soberania dos povos originários, mas, ao mesmo tempo, permite que seus ministros negociem diretamente com investidores chineses uma ferrovia que atravessa territórios indígenas sem consulta prévia, sem licenciamento ambiental transparente e sem diálogo real com as comunidades afetadas. É o apagamento institucional de povos inteiros sob o pretexto de escoamento de grãos e minérios.
Não há soberania onde há remoção forçada. Não há respeito à ancestralidade onde a terra vira entulho. E não há compromisso com os povos indígenas enquanto a decisão final sobre seus destinos é tomada entre gabinetes de Brasília e Pequim.
TERRITÓRIO VIOLADO: QUEM PERDE COM O PROGRESSO?
Estudos do ISA (Instituto Socioambiental) indicam que mais de 50 terras indígenas podem ser impactadas diretamente pela Ferrovia Bioceânica, que ainda carece de um plano de mitigação real. A construção de trilhos, a chegada de máquinas e o avanço da especulação fundiária são apenas o início de um colapso regional: rios poluídos, fauna expulsa, florestas desmatadas e culturas dizimadas.
O governo acena para o agronegócio, afaga o mercado internacional e ignora solenemente os povos que diz proteger. Enquanto isso, lideranças indígenas como a ministra Sonia Guajajara caminham em círculos dentro do próprio Executivo, tentando impedir retrocessos que se multiplicam como soja no cerrado.
OS “DONOS DA TERRA” NÃO TÊM MAIS CASA
Como pode um governo que se diz progressista permitir que a terra dos “donos” seja ocupada, cortada, vendida e explorada sem que esses mesmos donos sequer sejam consultados? A resposta é cruel: porque o discurso virou moeda e a terra, mercadoria. E como em toda negociação desigual, os que mais têm a perder são os que menos são ouvidos.
A verdade é que o governo Lula optou por manter o Brasil na velha lógica colonial: a de que os fins econômicos justificam todos os meios, mesmo que isso custe a destruição de biomas e o genocídio cultural dos povos originários.
A INDEPENDÊNCIA DA PÀHNORAMA
A Revista Pàhnorama não se vende a discursos bonitos. Nossa missão é expor os bastidores do poder, denunciar as incoerências políticas e dar voz aos que vivem silenciados. E é por isso que dizemos, com todas as letras: se Lula quer ser lembrado como defensor dos povos indígenas, ele precisa agir como tal. E isso começa por dizer não ao massacre institucional que a Bioceânica representa.
Porque não existe justiça social em trilhos que atropelam raízes.
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