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Ana Soáres

A Nova Era de Donald Trump e o Impacto no Brasil

Um Mundo em Tensão e o Brasil Entre as Correntes da Política Global

Donald Trump e JD Vance, o anúncio da vitória
Donald Trump e JD Vance, o anúncio da vitória - créditos: Reprodução/Instagram @teamtrump

A reeleição de Donald Trump (78) à presidência dos Estados Unidos não marca apenas um novo capítulo na política norte-americana, mas define um divisor de águas para o cenário global. De maneira direta e indireta, o Brasil se encontra, mais uma vez, no centro do efeito dominó provocado por uma nova liderança na Casa Branca. Para entender o impacto disso no Brasil e em nossos rumos econômicos, políticos e sociais, é preciso fazer uma análise cuidadosa e profunda, que nos leve a um ângulo de 360 graus sobre o cenário que desponta.


O retorno de Trump traz consigo um conjunto de ideias e ações com forte potencial de impacto nas relações internacionais. Conhecido por sua postura nacionalista e protecionista, Trump chega com a promessa de reafirmar a “America First”, uma política que pode se traduzir em consequências importantes para países emergentes como o Brasil. Para nós, em especial, isso representa riscos e oportunidades, e não se trata apenas de comércio, mas de algo muito mais profundo.


O comércio entre Brasil e Estados Unidos é um dos pontos mais sensíveis nessa relação. O Brasil, que depende consideravelmente da exportação de commodities como soja, carne e minério de ferro, sempre teve nos Estados Unidos um parceiro comercial importante. A retomada de Trump ao poder, porém, pode significar uma escalada protecionista com tarifas e restrições que afetem diretamente o mercado brasileiro. Em 2023, o Brasil exportou cerca de 31 bilhões de dólares para os EUA, mas se o governo Trump endurecer suas práticas, esse número pode sofrer uma queda brusca, afetando a já frágil economia nacional.


Além disso, a política externa de Trump não se limita à questão comercial. Ele volta ao poder em um contexto mundial onde grandes potências, como China e Rússia, estão cada vez mais influentes. Em seu governo anterior, Trump tratou a China como principal adversária, o que poderia ter impactos diretos sobre o Brasil, um país que também depende enormemente do gigante asiático para sustentar seu agronegócio e indústria. Em um eventual recrudescimento das tensões entre EUA e China, o Brasil pode ser pressionado a escolher um lado, situação delicada para um país que tem na China seu maior parceiro comercial, mas que não deseja abrir mão dos Estados Unidos como aliado estratégico.


Para o Brasil, que enfrenta desafios domésticos estruturais na economia, na educação e na saúde, o cenário internacional adiciona uma camada de complexidade. Em um país que há décadas não encontra solução para seu próprio desenvolvimento, a falta de uma estratégia clara de política externa significa que corremos o risco de nos tornarmos um peão, uma peça movida conforme as prioridades das potências. Ao invés de avançar, nossa posição no tabuleiro global permanece sempre a de quem aguarda o próximo movimento alheio para decidir seu rumo.


Donald Trump à caminho do voto
Donald Trump a caminho do voto - créditos: Reprodução/Instagram @teamtrump

Em termos de política ambiental, Trump retorna ao poder com um histórico de desprezo por questões climáticas, uma postura que preocupa em um momento onde o mundo observa com apreensão a devastação da Amazônia. Se Trump adotar uma posição permissiva com relação às questões ambientais, isso pode levar o Brasil a adotar uma política menos rigorosa sobre preservação, o que causará não apenas danos ao meio ambiente, mas também à nossa imagem internacional. A dependência brasileira do agronegócio faz com que a política ambiental norte-americana tenha repercussão direta nas práticas e políticas ambientais do Brasil. O país, que já enfrenta críticas no cenário mundial pela sua gestão da Amazônia, pode ver-se ainda mais isolado, especialmente se a Europa e a China tomarem posição firme contra o desmatamento e a degradação ambiental.


No campo da segurança, a reeleição de Trump tem potencial para acirrar tensões em toda a América Latina. Com um discurso de combate ao socialismo e ao avanço de políticas consideradas progressistas, Trump provavelmente fortalecerá alianças com governos latino-americanos de direita, o que pode significar apoio a uma política de segurança mais rígida. No Brasil, um cenário como esse poderia resultar em uma escalada militarista, especialmente em estados onde a violência urbana é alta e os investimentos sociais ainda são frágeis. Esse tipo de política, contudo, tem o risco de focar apenas em repressão, sem oferecer soluções estruturais para os problemas que afetam a população.


A economia global, por sua vez, vive um momento de incertezas. A reeleição de Trump ocorre em um período de inflação global, com aumento do custo de vida e crises de abastecimento em várias regiões. As decisões econômicas de Trump podem afetar o câmbio e as taxas de juros de modo a impactar diretamente a economia brasileira, especialmente se houver uma valorização do dólar. Esse tipo de pressão externa pode levar a um aumento no custo da dívida brasileira e a uma dificuldade ainda maior em equilibrar as contas públicas, que já sofrem com a ineficiência administrativa e com o alto custo da máquina pública.

Donald Trump: momento do voto - créditos: Reprodução/Instagram @teamtrump
Donald Trump: momento do voto - créditos: Reprodução/Instagram @teamtrump

Por fim, a própria questão da autonomia política é colocada em jogo. Em uma era de políticas de manipulação, onde o cidadão comum se vê cercado de discursos que pouco ou nada se traduzem em real mudança, o Brasil corre o risco de se ver ainda mais dependente de pressões externas. Seja sob uma perspectiva ideológica ou econômica, continuamos como um país em que as decisões de governo são condicionadas por interesses que nem sempre colocam o bem-estar do cidadão em primeiro lugar.


Diante do retorno de Donald Trump, o Brasil precisa, agora mais do que nunca, de uma liderança capaz de enxergar o contexto global de forma estratégica e independente. Precisamos superar essa condição de subserviência e finalmente encontrar um caminho próprio. A realidade, porém, é que as correntes que nos prendem à inércia política e econômica ainda estão fortemente apertadas.


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