As pessoas desinformadas andam tão em pânico por causa da AIDS que começam a ver riscos de contaminação até numa galinha ao molho pardo.
Por Silver Marraz
O Dia Mundial da AIDS, celebrado em 1º de dezembro, não é apenas uma data no calendário. É um chamado à conscientização, à solidariedade e, sobretudo, à empatia. A epidemia de HIV/AIDS, que abalou o mundo nas últimas décadas, revelou mais do que uma crise de saúde pública: expôs feridas sociais profundas, onde preconceito, desinformação e estigmatização se entrelaçam, perpetuando sofrimento e exclusão.
Ainda hoje, muitos enfrentam não apenas os desafios de viver com o vírus, mas também o peso do olhar discriminatório, do julgamento silencioso, da barreira invisível que os separa de uma plena aceitação social. A ignorância, travestida de moralismo, alimenta o preconceito. É preciso lembrar que o HIV não escolhe gênero, orientação sexual, cor ou classe social. Ele não tem rosto, mas suas vítimas têm nome, histórias e direitos.
O acesso à informação de qualidade é uma das armas mais poderosas na luta contra a AIDS. Campanhas educativas precisam ir além do técnico, humanizando as narrativas e mostrando que o avanço da ciência transformou a infecção em uma condição tratável. Com os tratamentos antirretrovirais, pessoas vivendo com HIV podem ter uma vida longa e saudável. O conceito de "indetectável = intransmissível" (I=I) deve ser amplamente difundido: uma pessoa que adere ao tratamento e mantém o vírus indetectável no organismo não transmite o HIV por via sexual.
Entretano, enquanto a ciência avança, o preconceito ainda estaciona. Não há progresso real se a sociedade não acompanha essas mudanças. Rotular, segregar e temer perpetuam a epidemia, pois muitos deixam de buscar diagnóstico e tratamento por medo do estigma. O silêncio e o tabu são cúmplices invisíveis na disseminação do HIV.
Como indivíduos, somos chamados a refletir sobre nossa postura. O preconceito não está apenas em palavras ofensivas, mas em atitudes diárias: no medo de abraçar, de dividir um espaço, de oferecer trabalho ou oportunidade. Humanizar o olhar é reconhecer a dor do outro e agir para diminuir essa dor.
A responsabilidade é coletiva. Governos, empresas, escolas e comunidades devem construir pontes de diálogo e acolhimento, promovendo políticas públicas que garantam tratamento universal, campanhas educativas e espaços seguros para debate. Mais que isso, é imperativo amplificar as vozes de quem vive com HIV, permitindo que elas sejam agentes de mudança e não apenas objetos de compaixão.
O Dia Mundial da AIDS é um lembrete de que, enquanto existir preconceito, nossa luta está inacabada. Que possamos usar esta data para reafirmar um compromisso inabalável com a dignidade humana, a igualdade e a justiça. Porque, no fim, o que realmente nos define não é o que carregamos em nosso sangue, mas a força com que amamos, acolhemos e transformamos o mundo.
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